Manifesto a favor da arte feia
- Mariana Leila Nascimento Collin
- 3 de set.
- 2 min de leitura
Encontrando liberdade na criação

Manifesto a favor da criação artística “feia”.
Eu achava que arte era para poucos: para quem nasce com “dom” ou talento, quem tem estilo de vida “artístico”, quem cria algo “bonito”. Nunca me encaixei nessas categorias.
Então entendi algo simples: arte não é (só) sobre o resultado, mas sobre o processo. Não é sobre o produto final, mas sobre transformar o invisível, essa matéria-prima da alma, em algo palpável. Trazer o que está dentro para o mundo. E isso, para mim, vale muito mais do que a qualidade estética da obra.
Isso ficou claro recentemente, enquanto pintava à beira de uma cachoeira, meu lugar criativo favorito. Um casal passou e, ao ver meu desenho, um deles disse: “Uau, que bonito!" (com aquele tom automático de falsidade e superficialidade). Além de vazio, o comentário me pareceu invasivo. Antes que eu pudesse conter, respondi: "Obrigada, mas não é sobre isso." Não era sobre o que eles estavam vendo.
Aquele momento refletiu um diálogo interno frequente nos meus processos criativos: o embate entre minha crítica interna implacável e minha artista interior. Uma diz, com tom de julgamento: "Nossa, como isso está ficando feio." A outra, mais forte (ufa!), responde: "Não é para ser bonito ou feio. É para ser você."
Esse tem sido meu caminho de libertação. Não busco perfeição ou enquadramento em padrões de beleza. Quero expressar algo meu, algo que só eu posso trazer ao mundo, a alquimia da minha essência, o encontro entre meu inconsciente e consciente.
Essas três pinturas, feitas na beira daquela cachoeira, não são "bonitas" nem "feias". São retratos de facetas minhas, reflexos da luz e da sombra de processos profundos de autoconhecimento e cura. São registros íntimos das inquietações da minha alma em um momento específico da minha jornada.
Meu caminho de liberdade tem sido aceitar que o valor das minhas criações não está no que elas parecem, mas nos lugares que me permitem acessar e nas emoções que transmuto ao criá-las. O resultado não é o produto; o resultado é o processo.
Este é o meu manifesto a favor da arte “feia”, que não se adapta a padrões externos de beleza, mas segue um referencial interno. E, com isso, aceito que eu também posso fazer arte. Eu também posso ser artista.



Comentários